Monday, January 19, 2009

O Esgoto da Sociedade - Capitulo V

O rapaz vira-se para trás, atordoado com uma voz inesperada. Encontra a rapariga que, com a sua figura, contrasta com as nuvens negras que passam no céu. A pergunta ecoa na sua cabeça. Porquê? Porquê? Porquê?
A pergunta não é nova, e a resposta não é simples...
"Porque o destino assim ditou. Porque a chance nunca me foi dada para ser um deles. Porque mesmo que essa chance me fosse oferecida, eu nunca a aceitaria. Porque eu gosto da minha individualidade. Porque conviver com essas pobres almas penadas por "tendências", "modas" e outros afins estúpidos nesta sociedade construída a cuspe e "popularidades" seria impossível e impensável."
A rapariga ouviu cada palavra, absorvendo cada silaba, como uma esponja. Aquela realidade era inconcebível, irreal, dolorosa demais para sequer pensar. Mas o rapaz vivia nela.
"Mas porque não os aceitas como eles são?" tenta a rapariga perceber.
O rapaz dá um escasso riso, olhando para o horizonte distante.
"Eu tentei. Foram eles que não me aceitaram a mim. Um grande homem uma vez disse: "Quem torna as revoluções pacificas impossíveis, torna as revoluções violentas inevitáveis." Eles rejeitam-me por ser quem sou. Esta é, ao mesmo tempo, a minha eterna maldição e o meu maior poder.

O poder da individualidade. A revolução silenciosa..."

1 comment:

nessita said...

Este tocou mesmo cá dentro... Identifico-me com as tuas palavras, com as tuas palavras, mas não com o teu modo de agir. Percebe-se que a escrita é a tua arma poderosa mas, no fundo, tudo o que escreves é verdade, sentes realmente isso. E talvez seja essa a realidade mais dura. É que, ao contrário de Fernando Pesssoa (a minha referência na poesia), tu NÃO és um fingidor.