Wednesday, June 10, 2009

Derradeira Despedida

Não. Não vás. Não me abandones neste desespero. Tu és o meu único amparo. Foste tu que me fizeste viver até agora. Tu deste-me forças quando eu não as tinha. Apaziguaste a dor no meu peito. Não vires costas agora. Dá-me mais uma hipótese. Porque tu? Porque hoje?

E porquê agora? Porque não antes? Esperavas mesmo que acontecesse alguma coisa? Foi por isso que vieste? Para dizeres “Fizemos o que pudemos, mas já não vale a pena”? Eu não vejo as coisas da tua maneira. Quem diz que já acabou? Temos de tentar, temos de insistir, temos de fazer tudo, o possível e o impossível, e se não conseguirmos á primeira, tentamos outra vez, e outra, e outra…

Mas já não vale a pena. Tens razão. Insistir para quê? Só me vou magoar ainda mais. Às vezes penso que sou de borracha, e que tudo o que é dor simplesmente bate contra mim e salta para longe. Mas não. Tens razão, sou de barro. Ao início resisto, mas uma pancada mais forte, um abalo mais doloroso, uma dor mais aguda, e fico em pedaços no chão. E depois tu vinhas colar cada pedacinho outra vez, mas depois, eles voltavam a partir. Fartaste-te de trabalhar em vão. Como eu te entendo. Mas eu quero tentar, quero continuar, mesmo que o meu futuro já esteja definido na dor. Como eu queria voltar aos velhos tempos, em que quando me aleijava, os meus pais me davam carinho e me tratavam da ferida. Porque não podemos voltar a ser crianças? A dor diminuía, mas o sentimento não.

Então vai, e faz boa viagem. Agora vejo como abusei de ti. Aqui fico, com a validade de apenas mais uma grande dor. Expirada a minha validade, este corpo ficará oco, sem vida, uma carcaça de pele, músculos, sangue e dor.

Adeus, esperança de te ter um dia, minha princesa.

1 comment:

Inês (?) said...

Oh João , já tinha saudades de te ler em português . Quando é que sai uma compilação em livro de tudo isto ? ^^